Participar do maior congresso de nefrologia do mundo (realizado anualmente nos Estados Unidos) é sempre revelador. Além disso, é nesse encontro que especialistas apresentam estudos capazes de mudar o futuro da saúde renal. Neste ano, ficou evidente que a área vive uma verdadeira virada: as novidades da nefrologia 2025 inauguram a era de ouro da nefrologia.
Durante décadas, os tratamentos disponíveis se baseavam principalmente em duas classes de medicamentos: IECA e BRA, como enalapril e losartana. No entanto, os avanços recentes ampliaram muito as possibilidades. Agora contamos com terapias que reduzem a perda de função renal, diminuem a proteinúria, controlam melhor a pressão arterial, reduzem eventos cardiovasculares e, além disso, atuam diretamente em mecanismos de doenças renais específicas.
Entre essas novidades da nefrologia, destacam-se:
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iSGLT2 (ex.: dapagliflozina)
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agonistas de GLP-1 (ex.: semaglutida)
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bloqueadores modernos de aldosterona (ex.: finerenona)
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drogas direcionadas ao sistema complemento
Consequentemente, a prática clínica muda rapidamente. A seguir, explico os estudos mais importantes, traduzidos para uma linguagem acessível.
Estudo 1 — PISCES (NEJM): Ômega-3 em pacientes submetidos à hemodiálise
Uma das pesquisas mais discutidas foi o PISCES, publicada no New England Journal of Medicine. O estudo avaliou o uso de 4 g de ômega-3 por dia em pacientes em hemodiálise.
Resultado principal
➡️ Redução de 43% no risco de infarto, AVC e amputações relacionadas a problemas circulatórios.
O que isso significa na prática
Pacientes em diálise têm risco muito alto de eventos cardiovasculares por causa da inflamação constante e das alterações vasculares. O ômega-3 parece atuar justamente nesses mecanismos, reduzindo inflamação e melhorando a saúde dos vasos.
Se outros estudos confirmarem esses resultados, o ômega-3 poderá se tornar uma ferramenta adicional no cuidado geral de quem realiza hemodiálise, uma opção simples, acessível e com ótimo perfil de segurança.
Estudo 2 — FINE-One: Finerenona no diabetes tipo 1
Embora ainda não publicado oficialmente, o FINE-One foi apresentado no congresso e chamou atenção do mundo inteiro.
Resultado principal
➡️ Redução de 25% da proteinúria em pacientes com diabetes tipo 1.
Por que isso é histórico
Nenhum medicamento até então havia demonstrado redução consistente de proteinúria nessa população. Como a proteinúria representa um marcador direto de lesão renal, reduzí-la significa, na maioria dos casos, retardar a progressão da doença.
Esse estudo abre portas para uma nova abordagem no diabetes tipo 1, que historicamente tinha poucas opções de tratamento renal além dos medicamentos clássicos.
Estudo 3 — Farabursen: Anti-miRNA-17 para Doença Renal Policística (DRP)
Esse foi, sem dúvida, um dos temas mais futuristas e animadores do congresso. O Farabursen é um oligonucleotídeo (um tipo de medicação genética) projetado para bloquear o miR-17, um microRNA que prejudica o funcionamento do gene saudável ainda presente em pessoas com doença renal policística autossômica dominante (DRPAD).
Como funciona
Na DRP, os rins formam múltiplos cistos porque o gene normal não consegue desempenhar bem sua função. Ao bloquear o miR-17, o Farabursen permite que esse gene volte a trabalhar de forma mais eficiente, reduzindo a formação de novos cistos.
Forma de uso
💉 A aplicação será subcutânea, semelhante a injeções usadas no tratamento de diabetes e doenças autoimunes.
Perspectiva futura
Os estudos de fase 3 já vão começar, o que significa que estamos cada vez mais perto de uma terapia verdadeiramente modificadora da doença, e não apenas um controle dos sintomas.
Conclusão: uma nova era para o paciente renal
O congresso deste ano foi marcado por ciência sólida, inovação e, principalmente, esperança. As novidades da nefrologia 2025 mostram um futuro com tratamentos mais personalizados, mais eficientes e com foco na causa das doenças — e não apenas nos sintomas.
Pacientes com doença renal crônica, diabetes, glomerulopatias e doença renal policística podem esperar opções cada vez melhores.
A nefrologia está avançando rápido, e quem ganha é o paciente. E para nós médicos nefrologistas isso é animador e bom demais.
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